Seja lá o que for, andei tomando resoluções práticas para a existência. Porque nunca mais nesta vida quero ter saudade de beijo. Nunca mais a nostalgia daquele mundo de lÃnguas dançando balé no céu das nossas bocas. Nunca mais!
... E juro que nunca mais nesta vida quero tentar entender o amor. Quero deixar que ele passe por mim, como um pé de vento que sopra folhas e poeira num arranjo aprumado. Eu fico ali, no meio do redemoinho, só achando tudo muito bom. Depois, o amor se vai e a gente continua a tocar a existência. Assim é que deve ser.
... E nunca mais, nesta breve passagem, a palavra não dita, o gesto parado no ar, dissolvido antes do afago. Nunca mais a dose nossa de orgulho besta, a solidão das noites perdidas por amor desenganado, o coração parado, à espreita. Isso, não. Quanto mais o tempo passa, mais a urgência da felicidade ilusória e da quÃmica do bem-estar, essas coisas todas que se operam em nossos Ãntimos. Nunca mais. ... Nunca mais um dia atirado ao nada, nunca mais o verbo que não se completa, todas as palavras que não foram ditas - verdades -, todas elas, uma após a outra, formando frases, pensamentos, sentimentos, amor costurando o texto, que é linha que não refuga de jeito nenhum. ... Nunca mais! O coração se magoando todo o dia, a gente engolindo sapos e lagartos e se esquecendo de que é capaz de mudar cada uma das histórias, reescrever o livro das nossas vidas. Uma hora mais cedo e a cena teria sido outra ou o que teria acontecido se você não tivesse ido à quele lugar, à quela noite, quando o universo conspirava contra nós, ou a nosso favor? Quem é que vai nos explicar? Ninguém. Ou alguém.
Autor da mensagem: Miguel Falabella
|